terça-feira, 30 de novembro de 2010

OLHARES SOBRE A "GUERRA URBANA" NO RIO - III

Maurelio Menezes

Porque o tráfico de drogas no Brasil chegou ao ponto que está? Esta pergunta tem sido respondidas das mais diversas formas nos ultimos dias nas Midias Sociais, especialmente no Twitter. Há um grupo que coloca boa parte da culpa no consumidor seguindo o antigo raciocínio que, se ninguém consumir não haverá trafico. É mais ou menos como se dizer: se ninguem aceitar a corrupção, não haverá corruptos. Ou pior ainda: se você encontrar sua mulher (ou seu marido) o (a) traindo no sofá da sala, venda o sofá que ele(a) não te trairá mais.

Acredito sim que o usuário tem parcela da culpa pela evolução do tráfico. Mas só uma parcela. E pequena. A família, a escola, e várias outras entidades têm também uma parcela de culpa, assim como o Estado que sequer possibilita em grande escala tratamento a quem o procurar. Houve um grande avanço ao se considerar o usuário de droga alguém que precisa de tratamento. Mas o fato dele não procurar por esse tratamento o coloca numa situação delicada. Mas será que procurar um tratamento é algo assim tão simples? Com certeza, não. Porque ninguém se entrega às drogas por nada. Há sempre um motivo que, por mais que não concordemos com ele, é um motivo válido para quem se transformou em usuário.


O problema é muito maior, e não pode ser abordado sem antes de analisar diversos aspectos, como o baixo salário dos policiais, que abordei aqui no segundo Olhar sobre a suposta Guerra Urbana do Rio. Mas há também a absoluta falta de fiscalização por parte do poder público. O Brasil é um grande produtor de maconha, mas não produz Coca, materia prima da cocaina. Na campanha José Serra usou como um dos motes de seu programa a fiscalização das fronteiras, porque 60% da cocaina consumida no Brasil seria produzida na Bolivia (o resto provavelmente vem da Colombia). Mas há um outro detalhe. Bolivia, principalmente, e Colombia, não têm um parque industrial químico para produzir, por exemplo, a acetona, utilizada no refino. Ou seja, não basta fiscalizar a entrada, mas é preciso também a produção dos componentes químicos, a maioria promovida no Brasil. Aí os interesses são muitos e impedem a fiscalização, como também são muitos os interesses que impedem um avanço pesado sobre a industria do alcool, este sim a grande droga, que abre as portas para todas as outras. A arrecadação de impostos, só os federais, no Brasil esse ano será  superior a trilhão de dólares, e boa parte disso vem da industria do fumo e do alcool. Ou seja, para o governo federal, quanto mais viciados, maior a arrecadação.

A suposta guerra urbana que está se desenrolando no Rio tem raizes muito mais profundas que uma simples briga do bem contra o mal, como alguns afirmam. Ao Poder Publico não interessa aprofundar o debate porque a maior parte da culpa é mesmo dele, que, entre muitas coisas,  não fiscaliza, não reprime onde deve reprimir, não paga salarios dignos a policiais para que eles pelo menos resistam um pouco mais à corrupção. não amplia a rede de tratamento para diminuir o número de usuários, ataca apenas os traficantes das favelas, do morros (que a midia se encarrega de dioturnamente de transformar no traficante mais procurado do país), mas não mexe com os verdadeiros chefões que moram no "asfalto" em apartamentos luxuozérrimos, que não cria politicas publicas para evitar que a criança desde cedo se envolva com o crime, começando como fogueteiro, passe  pipeiro, passe a olheiro, se transforme em avião e morra logo depois bringando por um posto de Lugar Tenente na hierarquia do tráfico, já que pouquíssimos chegam a chefiar uma Boca.

Fica mais fácil também para todos nós, que támbém temos nossa parcela de culpa nessa situação, a aplaudirmos um espetáculo como o dos ultimos dias, considerando tudo como positivo, sem usarmos o sacrassanta ferramenta da dúvida cartesiana ou agostiniana, fingindo que agora tudo está resolvido. Não está. E infelizmente está longe de se resolver.

2 comentários:

  1. Engraçado esse Brasil, esses nossos representantes. Temos dinheiro, leis, todas as condições para a mudança, mas mesmo assim as coisas não acontecem pelo simples fato da falta de iniciativa e vontade de quem mais pode fazer, que são as autoridades constituidas.

    A derrocada, pelo menos por hora dos chefões do tráfico no Rio de Janeiro, é uma mostra do quanto nossos governos podem fazer quando há vontade.

    Duro é constatar que algumas iniciativas são motivadas por apenas aspectos politicos ou comerciais.

    O Brasil não teria que se preocupar com segurança e organizar o pais por causa de fatores como turismo ou porque a Copa do Mundo vai ser aqui.

    É preciso que nossos governantes cuidem e façam a manutenção de todos os nossos direitos, do cidadão, todos os dias, não apenas porque precisamos organizar a casa por que as visitas estão chegando.

    Acordem senhores que governam esse Brasil. Precisamos de uma estrutura organizacional que seja mantida todos os dias do ano todo.

    O Brasil pode, e assim não só o Brasil, qualquer lugar, muda, progride e faz a justiça social acontecer de fato.

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  2. Sim é horrivel estarmos vendo toda essa limpeza sendo feita somente agora, mas "antes tarde do que nunca".
    O que precisamos fazer é lutar e não deixar que essa limpesa pare nisso. A organização da casa deve vir junto, não podemos deixar o governo acomodar-se novemente, e tudo voltar a ser o que era depois das visitas irm para suas casas.....

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